Roteiro de trabalho – Homem e mulher modernos
Série a que se destina: 3º Ano – EM
Resumo
Este projeto prevê a formação de leitores conscientes das marcas ideológicas nos textos correntes no mercado de consumo e no mercado cultural, como revistas, músicas, livros e televisão.
Justificativa
A opção por trabalhar análise do discurso ideológico deve-se à necessidade de desenvolver no aluno um posicionamento crítico e questionador diante dos textos com que se depara todos os dias.
Metodologia
Montagem de material expositivo utilizando ppt.
Apresentação de músicas com letra, por meio de ppt e Media Player
Discussões coletivas
Objetivos
Desenvolver as competências leitoras e escritoras de textos literários e jornalísticos dentro das várias tipologias.
Exploração do texto e percepção das figuras de linguagem.
Orientação sobre a leitura nas “entrelinhas”, levando o aluno a explorar no texto conceitos como inferência, implícito, subentendido, intertextualidade, pressuposto.
Identificar o assunto e a tematização textuais
Proporcionar leituras coletivas críticas e analíticas
Conceitos explorados: música, figuras de linguagem, inferência, implícito, subentendido, intertextualidade, pressuposto, tema, assunto.
Descrição da proposta e Reprodução dos textos utilizados:
Aula 1 - Exploração do conhecimento prévio seguido de discussão de capa de revista - Veja Anexo 1 – Foi feita abordagem da capa da revista (leiam as anotações, e caso tenham vontade de trabalhar o projeto podem me mandar um email raqueldonega@globo.com). O texto foi escrito por mim e é resultado da pesquisa da minha monografia da pós-graduação.
Aula 2 e 3 – A aula inicia com o conceito de ideologia - Veja Anexo 2.
Segue com a escuta de música e discussão sobre a mulher do século passado.
Baixe as músicas do seguinte site:
http://www.4shared.com/audio/LwqZflYW/Pery_Ribeiro__ngela_Maria__Cau.htm
Letras das músicas
Emília http://letras.terra.com.br/fundo-de-quintal/139782/
A mulher que é mulher http://letras.terra.com.br/ademilde-fonseca/576835/
Ai meu Deus que saudade da Amélia http://letras.terra.com.br/roberto-carlos/87939/
Mulher de malandro http://letras.terra.com.br/renata-lu/1467845/
Discuta as letras com os alunos procurando elencar as características essenciais presentes nas canções sobre quem era a mulher quando aquelas músicas foram escritas. Importante mostrar para os alunos que a música, como toda arte, reflete a sociedade de alguma forma.
Aula 4 – Discussão sobre as mudanças da mulher neste século e escuta e discussão da música Desconstruindo Amélia, da Pitty
http://www.4shared.com/audio/SXTVv8Gd/Pity_-__Desconstruindo_Amlia.htm
Aula 5 – Leitura e discussão coletivas sobre o texto: (Os alunos se divertem lendo esse texto, mas sugiro leitura apenas no ensino médio mesmo!)
http://www.paralerepensar.com.br/a_jabor_mulheresquenaoexistem.htm
OS HOMENS DESEJAM AS MULHERES QUE NÃO EXISTEM - Arnaldo Jabor
Está na moda - muitas mulheres ficam em acrobáticas posições ginecológicas para raspar os pêlos pubianos nos salões de beleza. Ficam penduradas em paus-de-arara e, depois, saem felizes com apenas um canteirinho de cabelos, como um jardinzinho estreito, a vereda indicativa de um desejo inofensivo e não mais as agressivas florestas que podem nos assustar. Parecem uns bigodinhos verticais que (oh, céus!...) me fazem pensar em... Hitler.
Silicone, pêlos dourados, bumbuns malhados, tudo para agradar aos consumidores do mercado sexual. Olho as revistas povoadas de mulheres lindas... e sinto uma leve depressão, me sinto mais só, diante de tanta oferta impossível. Vejo que no Brasil o feminismo se vulgarizou numa liberdade de "objetos", produziu mulheres livres como coisas, livres como produtos perfeitos para o prazer. A concorrência é grande para um mercado com poucos consumidores, pois há muito mais mulher que homens na praça (e-mails indignados virão...) Talvez este artigo seja moralista, talvez as uvas da inveja estejam verdes, mas eu olho as revistas de mulher nua e só vejo paisagens; não vejo pessoas com defeitos, medos. Só vejo meninas oferecendo a doçura total, todas competindo no mercado, em contorções eróticas desesperadas porque não têm mais o que mostrar. Nunca as mulheres foram tão nuas no Brasil; já expuseram o corpo todo, mucosas, vagina, ânus.
O que falta? Órgãos internos? Que querem essas mulheres? Querem acabar com nossos lares? Querem nos humilhar com sua beleza inconquistável? Muitas têm boquinhas tímidas, algumas sugerem um susto de virgens, outras fazem cara de zangadas, ferozes gatas, mas todas nos olham dentro dos olhos como se dissessem: "Venham... eu estou sempre pronta, sempre alegre, sempre excitada, eu independo de carícias, de romance!..."
Sugerem uma mistura de menina com vampira, de doçura com loucura e todas ostentam uma falsa tesão devoradora. Elas querem dinheiro, claro, marido, lugar social, respeito, mas posam como imaginam que os homens as querem.
Ostentam um desejo que não têm e posam como se fossem apenas corpos sem vida interior, de modo a não incomodar com chateações os homens que as consomem.
A pessoa delas não tem mais um corpo; o corpo é que tem uma pessoa, frágil, tênue, morando dentro dele.
Mas, que nos prometem essas mulheres virtuais? Um orgasmo infinito? Elas figuram ser odaliscas de um paraíso de mercado, último andar de uma torre que os homens atingiriam depois de suas Ferraris, seus Armanis, ouros e sucesso; elas são o coroamento de um narcisismo yuppie, são as 11 mil virgens de um paraíso para executivos. E o problema continua: como abordar mulheres que parecem paisagens?
Outro dia vi a modelo Daniela Cicarelli na TV. Vocês já viram essa moça? É a coisa mais linda do mundo, tem uma esfuziante simpatia, risonha, democrática, perfeita, a imensa boca rósea, os "olhos de esmeralda nadando em leite" (quem escreveu isso?), cabelos de ouro seco, seios bíblicos, como uma imensa flor de prazeres. Olho-a de minha solidão e me pergunto: "Onde está a Daniela no meio desses tesouros perfeitos? Onde está ela?" Ela deve ficar perplexa diante da própria beleza, aprisionada em seu destino de sedutora, talvez até com um vago ciúme de seu próprio corpo. Daniela é tão linda que tenho vontade de dizer: "Seja feia..."
Queremos percorrer as mulheres virtuais, visitá-las, mas, como conversar com elas? Com quem? Onde estão elas? Tanta oferta sexual me angustia, me dá a certeza de que nosso sexo é programado por outros, por indústrias masturbatórias, nos provocando desejo para me vender satisfação. É pela dificuldade de realizar esse sonho masculino que essas moças existem, realmente. Elas existem, para além do limbo gráfico das revistas. O contato com elas revela meninas inseguras, ou doces, espertas ou bobas mas, se elas pudessem expressar seus reais desejos, não estariam nas revistas sexy, pois não há mercado para mulheres amando maridos, cozinhando felizes, aspirando por namoros ternos. Nas revistas, são tão perfeitas que parecem dispensar parceiros, estão tão nuas que parecem namoradas de si mesmas. Mas, na verdade, elas querem amar e ser amadas, embora tenham de ralar nos haréns virtuais inventados pelos machos. Elas têm de fingir que não são reais, pois ninguém quer ser real hoje em dia - foi uma decepção quando a Tiazinha se revelou ótima dona de casa na Casa dos Artistas, limpando tudo numa faxina compulsiva.
Infelizmente, é impossível tê-las, porque, na tecnologia da gostosura, elas se artificializam cada vez mais, como carros de luxo se aperfeiçoando a cada ano. A cada mutação erótica, elas ficam mais inatingíveis no mundo real. Por isso, com a crise econômica, o grande sucesso são as meninas belas e saradas, enchendo os sites eróticos da internet ou nas saunas relax for men, essa réplica moderna dos haréns árabes. Essas lindas mulheres são pagas para não existir, pagas para serem um sonho impalpável, pagas para serem uma ilusão. Vi um anúncio de boneca inflável que sintetizava o desejo impossível do homem de mercado: ter mulheres que não existam... O anúncio tinha o slogan em baixo: "She needs no food nor stupid conversation" (Ela não precisa de comida nem de conversas estúpidas). Essa é a utopia masculina: satisfação plena sem sofrimento ou realidade.
A democracia de massas, mesclada ao subdesenvolvimento cultural, parece "libertar" as mulheres. Ilusão à toa. A "libertação da mulher" numa sociedade ignorante como a nossa deu nisso: superobjetos se pensando livres, mas aprisionadas numa exterioridade corporal que apenas esconde pobres meninas famintas de amor e dinheiro. A liberdade de mercado produziu um estranho e falso "mercado da liberdade". É isso aí. E ao fechar este texto, me assalta a dúvida: estou sendo hipócrita e com inveja do erotismo do século 21? Será que fui apenas barrado do baile?
Julgo sempre algo interessante trabalhar mais com perguntas para os alunos do que com afirmações sobre os textos lidos. Então, sugiro que o professor anote algumas perguntas no texto (imprima sua cópia com espaçamento 2) para fazer para os alunos.
É importante que nesse processo, o professor e o aluno entendam que assim como a mulher moderna ainda está em construção, de forma que nem deixou de ser a dona de casa nem é apenas o “homem da casa”. Acho até interessante montar um quadro na cartolina com as características da mulher que foram mantidas e as que estão sendo adquiridas (é preciso agir de forma prática nesse caso, sempre trabalhando com generalizações, ainda que isso não seja o melhor)
Seguido a isso, separei as salas em grupos e distribui para os alunos revistas masculinas e femininas (uma de cada para cada grupo), como Vip, Nova Cosmopolitan, Marie Claire, Placar, etc. E lhes pedi que investigassem quem eram os homens modernos, eles então podem usar a internet, ler piadinhas, ver vídeos, ouvir outras músicas, pesquisar blogs (há alguns muito bons sobre os homens como http://www.machomoderno.com.br/ e http://homensmodernos.wordpress.com/ (há outros). Em geral, há muito mais material sobre a mulher do que sobre o homem e o material masculino é bem recheado de preconceitos, o que, de alguma forma, deve ser abordado pelo professor.
Os alunos então, baseados nas pesquisas, puderam montar seus trabalhos, abordando temas como família, relacionamento, alimentação, saúde e higiene, beleza, sexo, tudo acerca do homem moderno.
Confesso que os alunos tiveram bastante dificuldade, em geral acabavam falando bastante sobre a mulher (inevitável já que os gêneros se formam um em torno do comportamento do outro), mas foi bastante rica a discussão.
Implementação
A implementação do projeto ocorreu durante o primeiro semestre em turmas de 3º Ano do EM, Escola Estadual David Zeiger.
Apesar de dispor de recursos tecnológicos, a escola tem limitações quanto ao uso da sala de informática e à disponibilidade de espaço para que os alunos se reúnam para montar os trabalhos. Além disso, não dispõe de computadores para utilizar o datashow o que me obrigou a adquirir um notebook logo no começo do ano.
Infelizmente não foi possível montar um blog com as turmas, pois a conexão na escola é muito ruim e não há previsão de melhoria. Apesar disso, alguns alunos se organizaram e montaram blogs, um deles é este: http://tiquetaqueando9.blogspot.com/
Sobre a implementação, acho interessante ressaltar que o computador é um recurso extremamente útil na busca e exposição de materiais didáticos, uma vez que proporciona acesso irrestrito a conteúdos de níveis diversos, possibilitando que cada indivíduo avance ou retroceda segundo sua própria perspectiva. Possibilita, ainda, diversas visões sobre o mesmo tema. Entretanto, deve-se tomar o cuidado de observar o trabalho do aluno, uma vez que eles estão extremamente familiarizados com o recurso (que não é apenas didático), e podem se distrair ou se entediar com facilidade.
Avaliação
Avaliação Contínua
Instrumentos de avaliação
Coletivo: Leitura e interpretação de textos
Posicionamento e uso de linguagem adequada e argumentos coerentes durante as discussões
Produção de textos
Apresentação de seminário
Estrutura e organização do blog
Avaliação Bimestral
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