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terça-feira, 27 de julho de 2010

A periferia e os hábitos de consumo

"Celular é que nem cu, todo mundo tem" – Frase ouvida dentro do ônibus
"Ao contrário do mundo caótico apresentado pelos noticiários dos jornais, a mensagem publicitária cria e exibe um mundo perfeito e ideal, a verdadeira ilha de Calipso, que acolheu Ulisses em sua Odisséia – sem guerras, fome, deterioração, ou subdesenvolvimento. Tudo são luzes, calor e encanto, numa beleza perfeita e não perecível" – Nelly de Carvalho, Publicidade – A linguagem da sedução.

Alguns dos meus vizinhos moram em barracos que inundam ou pingam a cada chuva, que, aliás, são bem frequentes na região de Parelheiros. Outros moram à beira de córregos, que alagam quando chove e fedem nos dias de sol. Eu tenho muitos vizinhos, de moradores de “cortiços” e pensões a casas grandes e bem construídas, mantidas nas regiões mais altas e por pessoas mais abastadas. Mas eles todos, absolutamente todos, tem algo em comum: são consumidores.

De acordo com o Aurélio online, consumidor é toda “pessoa que compra para uso próprio gêneros ou mercadorias”. É preciso ressaltar, entretanto, que há pessoas que não compram, mas influenciam na decisão de compra de seus familiares, é o caso das crianças e algumas esposas ou maridos, que embora não tenham pode aquisitivo, decidem junto com o pagante o que será comprado.

Embora não aceitemos com facilidade a ideia de que certas coisas só fazem parte de certos grupos sociais isso é um fato, antes de se abrir uma loja faz-se uma pesquisa de mercado para saber se aqueles que podem pagar por determinados bens os querem. Mas porque então, um tênis que custa 600 reais, produzido com tecnologia para jogar Tenis e outros esportes de alto impacto (na maioria das vezes praticados pelas classes A e B) são tão vistos em pés subindo morros e descendo vielas?

A periferia é marginalizada, e não está somente às margens do centro de São Paulo – devemos lembrar que vida social, cultural e profissional se concentra especialmente na Paulista e na região de Berrini -, a periferia está às margens do consumo.

O processo de descentralização (que traz a população de baixa renda cada vez mais para a periferia) é um dos grandes responsáveis pela busca de produtos que “insiram” as pessoas no mundo que só conhece quem tem dinheiro.

Ora, quem nunca viu uma doméstica ou auxiliar de limpeza com um celular compatível com ou mais tecnológico do patrão? Quem nunca viu um pedreiro, cobrador de ônibus ou motoboy sacar um celular com Touch Screen?

Não estou dizendo que essas pessoas não devem ou que não podem ter acesso à alta tecnologia, mas o que vejo são pessoas que se alimentam mal, não cuidam da saúde física e mental, tem uma péssima vida cultural (sem acesso ao teatro, cinema, shows), pessoas que não exercem sua devida cidadania, porque sequer votam ou frequentam escolas, mas pessoas que tem celulares pré-pagos top de linha, calças de marca e chapinha no cabelo.

Essas pessoas vêem nos objetos de consumo a única forma de se inserirem num mundo delineado como perfeito pela publicidade, mas que não pertence a elas e quiçá a ninguém.

domingo, 4 de julho de 2010

Homem... não entendo, mas amo!

HOMEM... não compreendo, mas amo
Quer assim, menina:
Moleca inocente que conheceu
Sorriso pueril que enterneceu
Corpo imaculado que se ofereceu
Pupila discreta que escondeu

E não entende que amadureço
Não aceita que eu cresço
Não compreende o apreço
Da entrega madura.

Não quer a mulher
Costela indecente que se entrega
Sorriso maldito, escorrega
Fêmea sedutora, se esfrega
Olhar intimista, não sossega

Homem... não compreendo, mas amo.
Dedicatória: homens... todos eles!