E não é que tudo se inverte
Nesse maldito carnaval
Fico aqui ouvindo Ivete
Que voa borboleta, coisa e tal
Mas se digo “não me diverte”
Eu que sou sobrenatural.
Se a minha vizinha pobretona
Sai na Rosas de Ouro de rainha
Eu não ouso dizer “cafona”
Minha fala é que desalinha
Pois eu vejo pela telona
Que a cultura não definha
Enquanto uma na fome padece
Mas na avenida rebola a noite inteira
Outra vestida de seixos aparece
Da escola é padroeira
E ao ourives é que agradece
Pela coroa passageira
Mas se a escola não é campeã
Eis que a fúria se mostra ao mundo
Voa cadeira em febre terçã
Vê-se o ódio no rosto imundo
Já não importa quem provou a maçã
A festa acaba em luto profundo
E no fim, quarta à tarde é rotina
E a ressaca é a inimiga
O padre volta a vestir a batina
Na barriga, se alimenta a lombriga
E a vida que parecia tão intensa
A mudar de ritmo nos obriga.
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